Kaplún, argentino de origem, criador do termo educomunicação, foi contemporâneo do filósofo brasileiro, Paulo Freire que, tanto quanto ele, assumiu explicitamente o compromisso de contribuir para a construção de uma América Latina que deveria se recusar à “domesticação
ou invasão cultural”.
Por esse motivo, não
poderia ficar alheio aos efeitos da comunicação sobre a vida dos
latino-americanos e a respeito desse tema se posicionou.
Para ele a comunicação era entendida como um fenômeno social de estreita relação com a
cultura, sinônimo de ação humana sobre as
coisas da natureza.
Tanto quanto Freire, Kaplún sabia que a comunicação, desde a sua
origem, se constituiu pela estreita ligação com a noção de
“integração da sociedade” (MATELLART, 1999), do ponto de vista
econômico; que se relacionou inicialmente com a expansão das “redes
materiais”, dentre as quais as ferroviárias – consideradas as
grandes propulsoras do progresso, estendendo-se com o tempo às
“redes espirituais”, ligadas às finança,
e por fim, à “gestão de multidões”,
ou seja, à necessidade de controle social das “massas”
concentradas nas emergentes áreas urbanas.
Tinha
conhecimento de que, da metade do século XIX até a segunda guerra
mundial, solidificou-se uma lógica de que o progresso só poderia
atingir a periferia por meio da irradiação pelos valores de um
centro (MATELLART, 1999:19), e que essa teoria difusionista ou
desenvolvimentista, propagada pelos Estados Unidos, era a mesma que
se instalou nos países do cone sul, calcada na idéia de que as
tecnologias serviam para a resolução de desequilíbrios sociais.
Buscando contribuir para
a conscientização dos povos latino-americanos, Kaplún denunciou as características da Comunicação Social ou
“indústria da comunicação”, como propõe Bordenave (1982), sob
influência de uma teoria funcionalista, mecanicista, formulada na
década de 1940 pelos estadunidenses Lasswell e Shannon (COHN, 1978),
num momento crucial em que os Estados Unidos buscava de todas as
formas a manutenção e fortalecimento do sistema capitalista.
Colocou em prática cursos de “Leitura Crítica”
(BORTOLIERO,1996), junto às camadas pobres da população de países
como Peru, Uruguai, Venezuela e Argentina, como meio de
esclarecer-lhes que os empresários da comunicação (detentores dos
meios de transmissão e controladores dos conteúdos das mensagens),
seguem uma fórmula semelhante à lógica matemática
para atingir uma única grande meta: motivar a compra de produtos e
serviços, de uma maneira rápida e massiva.
Mario
Kaplún não tardaria muito, contudo, à conclusão de que o tom
denuncista dessa proposta não mudaria os hábitos de consumo dos
meios por parte da população pobre. Em vez de alertar sobre os
efeitos nocivos dessa comunicação, passou, então, a desenvolver
com os pequenos agricultores, organizados em sindicatos e
cooperativas, uma prática de uso dos meios de comunicação com
finalidade educativa, deslocando-os do papel de receptores para o de
também produtores de comunicação.
Mais
uma vez é preciso ressaltar que o novo encaminhamento da sua
proposta resultou da revisão crítica de seus pressupostos e
reafirmou as convicções ideológicas de seu proponente. O Cassete
Fórum se configurou, assim, como um método, ou seja, um meio de
intervir numa realidade específica, buscando intencionalmente
transformá-la. Retomando Diaz Bordenave (1982:
19), para quem “la democratización de la comunicación debe
comenzar (y terminar) en el dialogo participativo del pequeño
lugar”, o próprio Kaplún declarou que
es para
organizaciones de esta naturaleza para las que ha sido concebido y
diseñado el Cassete-Foro. Para ponerlo a su servicio como
instrumento, como arma de organización.”
(KAPLÚN, 1984: 11)
A dimensão educativa de sua ação logo se
anuncia na própria definição
do Método Cassete-Fórum:
El Cassete-Foro
es un sistema de comunicación para la promoción comunitaria y la
educación de adulto, puesto al servicio de organizaciones populares
– rurales y urbanas – centrales cooperativas, centros de
educación popular etc.”
Palavras
como “participação”, “integração”, “mobilização”
deixam claro que seu trabalho se propõe a
ser
Un instrumento
útil (...) para dinamizar a las organizaciones populares y ayudarlas
en su expansión y su fortalecimiento para desarrollar la capacidad
organizativa de las bases y sus procesos de autoeducación
política.”
(KAPLUN, 1984: 13)
Ou
seja, “(...) introducir elementos de reflexión, de conciencia
crítica, de estímulo a la libertad y a la solidaridad” (KAPLÚN,
1984:45), na formação de homens e mulheres das camadas populares,
consumidores de uma comunicação massiva que tenta mantê-los
apáticos ou “completamente analfabetos” (Freire, 2000: 110)
diante dos problemas que vivem, para que se assumam como sujeitos e,
uma vez organizados, mudem a história.
Em suma, esse pensador opôs-se à miséria instaurada na
América Latina, onde os governos, centralizados nas mãos de uma
elite opressora e violenta, controlavam os recursos econômicos em
favor de si mesmos. Daí a razão pela qual, com veemência,
denunciou a invasão cultural especialmente importada dos Estados
Unidos, tão ardilosamente difundida pelos meios massivos de
comunicação, que serviam de apoio às ideias antidemocráticas das
elites do poder.
Vislumbrava na Educação e na Comunicação,
respectivamente, a possibilidade de promoverem nas massas a
consciência crítica necessária para uma mudança na estrutura do
Estado.
Este blogue registra os encontros da Oficina de Educomunicação. Origina-se de um Grupo de Estudos da área de Extensão da Faculdade Sumaré/SP, em 2010, assim permanecendo até 2013.
A partir dessa data, passa a se constituir como espaço de estágio para estudantes da graduação em Educação da Faculdade de Educação e do curso de licenciatura da USP, numa parceria firmada entre o Lab_Arte da Faculdade de Educação da USP e o Projeto Cala-boca já morreu.
Tem como objetivo contribuir para que participantes vivenciem processos de produção coletiva de comunicação, relacionando-as com as bases teóricas da Educomunicação.
Os encontros presenciais acontecem no 1º e 4º sábados de cada mês, das 10:30 `as 13 horas, na Rua Henrique Schaumann, 125, Pinheiros.
Para participar, os interessados devem enviar uma mensagem para gracia@usp.br, manifestando os motivos de seu interesse.
Adriana Cruz, , estudante de Pedagogia da Faculdade Sumaré /
Cibele Oliveira da Silva, estudante de Pedagogia da Faculdade Anhanguera /
Cristina Motta, estudante de Pedagogia da Faculdade Sumaré
Consuelo Gregori Zuñeda, pedagoga formada pela Faculdade Sumaré /
Daniel de Figueiredo - professor da rede estadual, estudante da Faculdade de Educação da USP /
Francisca Mesquita, estudante de Pedagogia da Faculdade Sumaré /
Gabriela Luiza Oliveira, estudante da Faculdade de Educação da USP /
Gustavo Hatashima - Shin, , estudante da Faculdade de Educação da USP /
Jefferson de Sousa Santana - estudante de filosofia da UNIFESP, co-responsável pelo Projeto Cala-boca já morreu/
Kadyne Fernanda Macedo, estudante da Faculdade de Educação da USP /
Márcia Pricinato Resende, estudante de Pedagogia da Faculdade Sumaré /
Sheyla Melo, pedagoga formada pela Faculdade Sumaré /
Suelen Oliveira da Silva, pedagoga formada pela Faculdade Sumaré /
Convidados especiaisCamila Doretto, jornalista atuante em espaços de educação não formal /
Fernando Delcolli, integrante do setor de audiovisual do CAPS 3 - Centro de Atendimento Psicossocial de São Bernardo do Campo /
Jefferson Santos, integrante do setor de audiovisual do CAPS 3 - Centro de Atendimento Psicossocial de São Bernardo do Campo.
Paulo Choi, estudante de Pedagogia da FEUSP